sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A Historia de Lilly Braun


Ela era fã de romances. Lia livros e via filmes que falavam de amor e ficava imaginando como seria se ela fosse a personagem principal. Imaginava o homem dos seus sonhos, como ele seria e como seria sua aproximação. Lilly era daquelas mocinhas de filme, gostava de histórias com final feliz e possuía uma imaginação tão louca quanto fértil. Freqüentadora assídua de um bar próximo de onde morava, Lilly era conhecida lá por ser discreta e sempre tomar a mesma bebida, na mesma mesa toda a semana. O bar era uma danceteria discreta, música ambiente, bar man e sempre frequentado pelas mesmas pessoas. Ela nunca se interessara pelos caras que ali bebiam e conversavam. Achava que eles nunca lhe dariam o romance que ela tanto almejava. Queria algo arrebatador, diferente. Algo que lhe tirasse da mesmice e lhe levasse para dentro de seus livros e filmes de romance, mas desta vez de verdade, não só na imaginação
Uma certa noite chovia muito e Lilly entrou no Dancing e pediu o de sempre ao garçom. Ele lhe trouxe o martini com três azeitonas. Lilly gostava do gosto que as azeitonas deixavam no final da sua bebida. E depois ela as comia devagar, saboreando o martini ali impregnado. Naquela noite, ela pouco se interessou em observar as pessoas que estavam no Dancing. Estava concentrada no novo livro de romance que comprara antes de entrar ali. Quando enfim terminou o primeiro capítulo do livro, viu que o martini tb tinha se acabado e com ele as azeitonas. Chegou a pensar que o livro estava tão interessante, que nem percebeu quando as tinha comido. Lilly precisava ir pra casa, estava a muito tempo ali sentada sem perceber. Ainda bem que morava bem próximo ao Dancing. Alguns passos e estaria em casa.
Quando fechou o livro e levantou a cabeça para pedir a conta ao garçom, seus olhos lhe levaram para a porta por onde está entrando, naquele instante, um homem bem apressado. Parece estar querendo se proteger da chuva. “Coitado!” Ela pensou. Mas seu pensamento não passou disso. Afinal, era apenas mais um freqüentador novo no Dancing. E neste momento ele a avistou. E foi como se os olhos dele tivesse lhe dado um close. Assim como acontecem nos cinemas. Ele ficou parado por um tempo contemplando Lilly. Parecia comê-la com os olhos. O que a deixou muito sem jeito e talvez com um pouco de medo. Mas ela sorriu timidamente a ele. E logo se imaginou fazendo poses para os olhos daquele homem desconhecido que a olhava como se a tivesse fotografando para não esquecer do seu rosto. Pensou que talvez fosse bom retribuir a ele os olhares, afinal ele era muito bonito, pelo menos assim de longe. E foi então, quando pensou nisso, que ela lhe sorriu dessa vez com tamanha felicidade. Pois tinha algo dizendo a Lilly que era para ela agir dessa forma. Parecia que os olhos daquele homem a tinham hipnotizado.
Ele veio em sua direção, para Lilly não havia mais ninguém no Dancing, apenas ela e aquele homem misterioso. Quando ele se aproximou, ela conseguiu ver direito o seu rosto. Tinha as sobrancelhas grossas e bem desenhadas, um rosto quadrado e lábios médios. O queixo era bem pronunciado. Não possuía barba e nem bigode e os cabelos eram negros e ainda tinha um pouco de costeleta. Parecia aquele personagem do filme que ela tinha visto semana passada. Pensou ser imaginação. Talvez devesse parar de ler e de ver tantos romances. Mas a sua imaginação acabara de lhe oferecer um drinque. Ela disse que sim apenas com a cabeça. Ele puxou a cadeira ainda olhando em seus olhos, quando o garçom se aproximou. E sem tirar os olhos dela ele pediu: “Traga para essa moça o mesmo que estava bebendo e um scotch para mim!” Lilly se sentiu confusa. Pensou em ir embora, mas antes mesmo que ela juntasse suas coisas ele falou novamente: “O que um anjo azul faz aqui neste lugar?!” Anjo azul?! Que brega! Mas assim era Lilly, brega como seus romances. E nesse instante sua visão ficou flou. Depois deste dia, vários martinis com três azeitonas Lilly tomou com aquele homem que deveria ter vindo do romance mais meloso que ela já tinha lido ou visto. Ás vezes era presenteada com uma rosa azul e um poema feito especialmente para ela. Lilly estava aproveitando cada momento daqueles encontros no Dancing, que passaram a ser rotineiros e vivia como as personagens mais amadas da face da ficção. Mas o seu romance, de fictício não tinha nada.. Todos os dias quando chegava em casa, e escutava o blues que estava tocando no Dancing quando se conheceram, ficava pensando no olhar, nas palavras em tudo o mais que aquele homem lhe proporcionava, ela se comparava a uma gema sem clara, completamente desmilinguida. Era assim que ela pensava estar. Numa certa noite ele abusou um pouco do tal scotch e entre tantas palavras de amor ele lhe disse que o corpo dela seria só dele aquela noite. “Oh…por favor!” Ela disse. O achou atrevido e ela não seria dessas. Afinal ela era a mocinha e não a moça malvada que quer separar o casal, pensava ela. Mas não era isso o que Lilly queria dizer. Queria mesmo ter seu corpo envolto ao dele. Mesmo assim, ela colocou seu xale em volta do busto para esconder o decote da chuva ou de quem quer que seja e se foi. Cheia de vergonha, com o rosto vermelho e quente.Lilly continuou freqüentando o Dancing, mas já não queria encontrar aquele homem. Achava que ele tivesse desistido dela por ela se negar a ir pra cama com ele. Chegou a se arrepender de dizer não, mas Lilly era muito tímida e contida em seus sentimentos carnais. Ela queria sim se entregar ao homem da sua vida. Mas achava que ele tinha sido muito canalha ao lhe proferir aquelas palavras. “Meu corpo só dele?! Não sou uma mercadoria!” chegou a pensar cheia de raiva sentada na mesma mesa, tomando seu Martini. Mesmo não querendo encontrá-lo, Lilly não parava de olhar para a porta do Dancing. Queria que estivesse chovendo como da primeira vez. E achou que ele nunca mais voltaria ali. Lilly tentou se ater ao seu novo romance e quando percebeu que folheava as páginas do livro sem prestar atenção no que estava escrito ali, decidiu ir embora. Juntou seu casaco e bolsa e caminhou até a porta. Quando a abriu, eis que surge em sua frente aquele homem. Tinha ele em suas mãos um buquê de rosas azuis e dez poemas feitos especialmente para ela. Tinha juntado por todos esses dias que não haviam se encontrado. Mas Lilly ficou irredutível, apesar de querer abraçar seu grande amor, não pegou as flores ou os poemas, Lhe disse adeus e saiu caminhando. Ele foi atrás dela e gritava seu nome lhe pedindo para esperar. Lilly parou e ele em sua frente disse que lhe amava e que a queria como esposa e não como mercadoria. O coração de Lilly disparou, era tudo o que ela queria ouvir desde que se conhecia por gente. Ela mal conseguia acreditar quando ele a beijou no altar da Igreja da cidade onde nascera.

Com o passar do tempo, Lily nunca mais leu ou viu um romance. Pensava que, o que ela estava vivendo era suficiente. Nunca mais tomaram drinque no Dancing. Afinal, lá era cheio de homens, não ficaria bem para uma mulher casada freqüentar aquele lugar de solteiros. E tb nunca mais recebera suas rosas azuis ou seus poemas. Sentia falta de tudo aquilo. Talvez Lily seria mais feliz anteriormente e não sabia disso. Achava que sua felicidade estivesse nas mãos de um romance, mas estava enganada. Sua privação da vida que tinha antes lhe respondera que não. O romance da vida real lhe dissera que não.



Fonte.


PS: Gosto mais dessa versão.

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